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Foto do escritorTainá Laydner Fiore

O colecionador - John Fowles

Fiquei indecisa quando vi que o livro tinha sido escrito em 1963. Sim, um preconceito completamente estúpido. Mas, as recomendações que recebi foram fantásticas. Me rendi.


Você já deve ter ouvido, em algum momento, a famosa frase de Hobber: “o homem é o lobo do homem”. Frederick Clegg é um homem solitário, humilde e, com certeza, menosprezado pela sociedade que esnobe em que vive. Isso me fez pensar: teriam as coisas sido diferentes se ele vivesse em outras condições?


Com esse comentário, você já pode imaginar que algo fora da curva acontece nessa história. Liberdade. O que pode ser considerado arte? O que pode ser considerado amor? Até onde o dinheiro nos leva? Ou sempre estivemos com um pé lá e o dinheiro foi só um empurrão?


Funcionário público, colecionador de borboletas e, de repente, rico. A sorte de ganhar na loteria de um, tornou-se o infortúnio de outra: Miranda, uma jovem estudante de arte de tamanha inteligência. Clegg sempre nutriu um amor platônico por Miranda, que nem sequer sabia de sua existência até ser sequestrada por alguém que, com dinheiro, viu uma chance de criar o cativeiro ideal.


O livro alterna entre a narrativa da vítima e do sequestrador e chegamos a ser confundidos pelas intenções de quem deveria ser considerado, exclusivamente, o vilão. De certa forma, ele quase nos convence de que fez o que fez por um motivo nobre: o amor - ele só deseja passar um tempo a sós com ela e, literalmente, aproveitar sua existência, sem cunho sexual necessariamente.


A narrativa explora não só a tensão psicológica do sequestro e do dia após dia que Miranda fica confinada. Afinal, será que ela será liberta em algum momento? Mas, também, pelo antagonismo dos únicos dois personagens: sequestrador e vítima, homem e mulher, um pensamento veementemente machista e o enfrentamento disso em uma época com pouco espaço para o feminismo.


Tantos embates acabam criando um jogo simultâneo de encantamento e repulsa em que quase é possível gostar do sequestrador, mesmo o odiando e desejando escapar do cativeiro por meio de inúmeras inteligentíssimas tentativas. Conforme sentimentos e desejos se fundem e confundem e promessas são feitas e traídas, o suspense é nutrido. Supostamente, existem inúmeras maneiras de amar alguém, inclusive, repulsivas. Quando se ama, se deixa partir? Quando se ama, mantem-se o ser amado? O que amar realmente significa? São perguntas proporcionalmente deixadas para que cada um de nós respondamos.


E se você está se perguntando sobre o final, se Miranda alcança a sua liberdade, bem, isso depende do que você entende por liberdade.





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